sábado, 11 de dezembro de 2010

Sagatiba

Sagatiba. Antes de ser uma cachaça, é um case. Concebida pelo empresário Marcos de Moraes, que acabara de embolsar uma fortuna de nove dígitos num bem-sucedido negócio na área do ponto com, a cachaça Sagatiba escolheu lançamento tipo tapete vermelho sabem onde? No Principado de Mônaco. Bem a propósito de um produto de exportação que buscava, desde saída, cravar a imagem de luxuoso privilégio. Em maio de 2004, seguiu para o Principado o faustoso trem da alegria de celebridades brasileiras e a desocupada nobiliarquia monegasca serviu de anfitriã, com direito a escola de samba e desfile de mulatas sestrosas na rue Suffren-Reymond e no quai do Port Hercule.

De cara, o inebriado Moraes - dono de uma das mais caprichadas adegas de tintos do País - investiu 70 milhões de dólares em uma campanha publicitária pilotada pela badalada Saatchi&Saatchi, de Londres, e entre suas cartadas de marketing está aquele antológico momento em que cinco garrafas da Sagatiba - a versão envelhecida, não por acaso apelidada Preciosa, embalada em caixa de madeiras nobres brasileiras com design de Claudia Moreira Salles - foram disputar o martelo fino e chique daquela Christie's onde se leiloam quadros e peças milionárias. As garrafas - distribuídas em um lote de vinhos e licores finos - foram arrematadas por 400 euros, cada uma.

Em 2005, a partir de uma destilaria de Patos de Minas e a expertise de Gilles Merlet, mestre francês na alquimia do conhaque, Steve Luttmann, procedente da grife de luxo LVMH, e mais dois sócios do mercado financeiro decidiram aceitar o desafio de enfeitiçar o mercado americano com o que pretendiam que fosse o estado da arte da cachaçaria. Assim nasceu a Leblon, que só em 2007 ingressou - em doses diminutas - aqui no mercado local. Até então, a Leblon só circulava nas altas rodas dos Upper Seventies de Nova York ou nas pérgolas dos Hamptons.

Semelhante à experiência Sagatiba, a Maison Leblon - assim, com pedigree francês - pode dissimular um capricho pessoal, mas existe lógica nessa loucura, é o que o mercado internacional tem indicado (a cachaça já é, em consumo, o terceiro destilado do mundo, perdendo apenas para a vodca e o coreano shoju).

Tanto que as duas mais musculosas multinacionais das bebidas aguçaram o nariz em direção à aguardente brasileira e também lançaram suas marcas, de olho prioritariamente no mercado de exportação. Dificilmente alguém irá encontrar, mesmo em capitosos templos como o restaurante Mocotó, de São Paulo (leia na sequência), uma cachaça como a Janeiro, da Pernod Ricard, império etílico de origem francesa e proprietário de grifes como o Ballantine's, o Chivas Regal e o champanhe Perrier Jouët. Mais fácil achar a Janeiro na Nikki Beach, em pleno verão de Saint-Tropez.

A Diageo, a número 1 do mercado mundial (leia-se Johnnie Walker, Absolut, Cîroc, etc.), adquiriu há um ano, a antiga Maria Fulô, de Nova Friburgo, Estado do Rio, e acaba de promover o extasiado relançamento de uma linha for export em que pontifica, top dos tops, a Fulô Ipê, com aromas de sândalo e ameixa - obra assinada pelo mestre cachaceiro Vicente Ribeiro.

O refinamento ainda é, contudo, um nicho - tanto fora quanto dentro do Brasil. As mesmas cinco marcas de aguardentes industriais que abarcam, só elas, 60% do mercado interno de 1,4 bilhão de litros/ano são aquelas que também suprem, em maior volume, a caipirinha gringa de cada dia. Não há quem não seja capaz de enumerar: Ypióca (de Maranguape, Ceará), a paulista Pirassununga 51, Tatuzinho, Três Fazendas, Velho Barreiro (essas três do grupo IRB, com sede em Piracicaba e Rio Claro).

É só o começo. A exportação tem crescido até 20% ao ano (como aconteceu de 2007 para 2008), mas o resultado não é de fazer ninguém entrar em transe: pouco mais de 16 milhões de dólares pelos 11 milhões de litros vendidos. Em resumo, o Brasil não chega a exportar nem 1% das cachaças que produz.
Alemanha, Portugal e, acreditem, o Paraguai encabeçam o rol dos compradores. A sistemática irrupção das cachaças premium e superpremium é que pode, se não aumentar o volume, pelo menos agregar valor à exportação.

Preferência nacional, a cachaça - e que se pronuncie de boca cheia o nome original, autêntico, verdadeiro - ainda luta para deixar as páginas de um folclore debochado e autodepreciativo capaz de botar na mesma prateleira aquelas brincadeiras tão típicas do Nordeste - marcas como Amansa Sogra, Consolo de Corno e Segura no Pau (que o sommelier Leandro Batista da Silva tem na conta de "um líquido, nunca uma cachaça") - com finos, saborosos, complexos elixires como a Havana, relíquia curtida em bálsamo que ficou como souvenir do mestre dos mestres, Anísio Santiago. O patriarca de Salinas se foi, sete anos atrás, mas os puristas da purinha - em contraste com certos trastes industrializados - deviam cotidianamente brindar, nas novas gerações de mestres artesanais, o seu esfuziante legado.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Breve retrospectiva do rum cubano

Rum e Piratas

Quando se fala em rum, logo vem à lembrança o verão, um bom charuto, saborosos coquetéis, os piratas, o charme das ilhas do Caribe... Enfim, como muitas outras, o rum é uma bebida secular e que até hoje é sucesso entre os especialistas. Produzido inicialmente em Cuba, no século 16, o rum possui características refinadas e aroma suave, por isso era chamado de "vinho de açúcar". Destilado de canas frescas trituradas ou de seu melaço, ficou muito conhecido a partir do século 17, sendo considerado uma bebida medicinal capaz de curar doenças e expulsar os "demônios" do corpo. Sua história conta ainda que sua alta graduação alcoólica (de 40 a 75 graus) servia para acalmar os ânimos e encorajar os piratas do século 19, na hora dos combates, além de servir como moeda para a troca de escravos. Fermentado de duas maneiras diferentes (agrícola e industrial), o rum é transparente e cristalino ao sair do alambique. A cor dourada, encontrada em alguns tipos da bebida, é resultado do envelhecimento em tonéis de carvalho, ou, na maioria dos casos, pela adição de corantes de caramelo. Os envelhecidos, como o añejo cubano, que repousa por sete anos e tem buquê digno dos melhores conhaques, não deve ser usado em coquetéis. Os mais exigentes, inclusive, recusam-se a bebê-lo com gelo. Mas o rum é ingrediente principal em drinques que são consumidos há muito tempo em todo o mundo, como Daiquiri, Cuba Libre e Mojito.

A História do rum cubano

A história do rum cubano é tão antiga como a própria colonização, pois é um produto extraído da cana-de-açúcar que o Almirante trouxe à Ilha em sua segunda viagem a este Continente. O que acontece é conhecido; as raízes da cana, procedente das Ilhas Canárias, se enraizaram na virgem e fértil terra cubana, onde encontrou um microclima ideal para crescer principalmente ao redor das aldeias aborígenes e dos rebanhos.

Existem muitas versões sobre as origens do rum, como a que desde 1650 nesta área do Caribe existiria um rum fabricado pelos piratas e corsários que navegavam pela zona ao qual denominaram “rumbillion”

Em Cuba, ao contrario, conta-se que com o extermínio de seus primeiros habitantes, no século 16, e com a chegada dos escravos negros arrancados de suas terras, a história continuou.

Diz-se que os escravos costumavam tomar o que chamaram “garapo”, obtido da fermentação da mandioca e o milho. Depois, passaram a extrair o suco da cana-de-açúcar, que uma vez fermentado, dava origem a um licor forte. Obtinha-se o liquido através de aparatos rudimentares. Mais tarde utilizou-se o trapiche em engenhos e usinas; a garapa se transformou em alcoóis e deles surgiu a aguardente.

Apetecido por sua transparência e cheiro agradável, destilação a destilação veio a surgir o rum. Mas, somente no século 19 se tornou uma bebida de qualidade e açeitação.

Surgem então no país diversas destilarias e marcas. Construíram-se destilarias em Cárdenas, Santiago de Cuba, Cienfuegos e Havana. Várias marcas se impuseram no mundo, entre as quais, as chamadas Matusalén, Jiquí, Bocoy, Campeón, Obispo, San Carlos, Albueme, Castillo, Bacardí e Havana Club.

A Bacardí se estabeleceu como a melhor e maior exportadora, durante quase todo o século 19 e parte do 20. Uma das principais leis do governo revolucionário que triunfou em 1959, foi a nacionalização das grandes empresas privadas. Os donos da Bacardí emigraram e, apesar de levarem a marca, não conseguiram levar nem obter no exterior, o bom sabor do rum cubano, “que ficou em nosso solo, nos canaviais, com o vento, o sol, os méis finais, o álcool, os barris e a herança do processo tecnológico”, no dizer de um reconhecido escritor desta nação do Caribe.

Desde então, se reorganizou e ampliou a indústria do rum cubano; surgiu de novo a antiga marca “Havana Club” – fundada em Cárdenas em 1878 – dedicada à exportação e cujo emblema é a Giraldilla, uma estatueta que simboliza a cidade de Havana.

A partir de 1993, esta marca se apresenta com a firma franco-cubana Havana Club International S.A. – a empresa francesa Pernod-Ricard se encarrega da distribuição mundial – e produz os Añejos Blancos; Tres Años Especial; Reserva sete anos e Quinze Anos, alem das mais recentes Cuban Barrel Proof e o Extra Añejo Máximo, todos de grande aceitação nacional e internacional.

Durante muito tempo, o Havana Club era único no mercado mundial. Atualmente, outras marcas cubanas não menos importantes têm conseguido afirmar-se internacionalmente; entre as quais: Mulata, Caney, Arecha, Legendário, Varadero, Santero e Caney. (Lucia Arboláez)

APROCAMAS - Associação dos Produtores e Cachaça de Monte Alegre do Sul e Região

As cachaças premiadas Já famosas pelo turismo oferecido, o Circuito das Águas Paulistas une os passeios já consagrados, como os de aventura, compras, histórico e de águas para dar espaço para os tradicionais alambiques da região.

Da orgânica à tradicional, as premiadas cachaças do Circuito despertam a atenção dos visitantes e ganham roteiro próprio. A região detém duas das três melhores cachaças do Estado, segundo os Concursos Paulistas de Cachaça de Alambique, que já tiveram mais de 150 participantes.

Primeira colocada no concurso em 2010, premiada na categoria cachaça não envelhecida, a cachaça Campanari, em Monte Alegre do Sul, se destaca no Circuito. Em Monte Alegre do Sul outras cachaças, como a Cachaça Adega do Italiano, Cachaça Chora Menina, Cachaça da Torre e a Cachaça Nono Rouxinoli também ganham cada vez mais expressão no mercado.

CACHAÇAS DE MONTE ALEGRE DO SUL E REGIÃO

A tradição de fabricar a famosa "marvada" vem dos italianos que povoaram a região no fim do século 19. Acostumados a destilar a casca da uva para fazer grapa, logo passaram a usar cana-de-açúcar na produção de bebidas.

Hoje, cerca de 50 pequenas propriedades rurais fabricam a pinga, algumas das quais apenas para consumo próprio. Os principais alambiques que vendem a bebida o ano inteiro são Neno Campanari (acesso pela estr. para o bairro da Barra, a Adega Nono Rouxinolli (Sítio Sta. Tereza, bairro do Falcão. Se a ideia é apenas comprar, pode ser mais fácil visitar a loja da APROCAMAS, associação dos produtores local (r. Cel. Luiz
Leite, 4, tel. 3899-2744, 6ª/dom 10h/12h, 13h/18h), que vende os produtos de 7 dos melhores alambiques.

A APROCAMAS

O pólo da cachaça de alambique do Circuíto das Águas Paulista constitui o maior aglomerado de produtores da bebida no Estado de São Paulo com uma centena de alambiques instalados nos municípios de Águas de Lindóia, Amparo, Jaguariúna, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Pedreira, Serra Negra e Socorro. Monte Alegre do Sul é considerada a capital da cachaça de alambique no Estado. A aproximação dos produtores da região, acabou resultando na criação da Aprocamas, a entidade que congrega proprietários de alambiques
de Monte Alegre do Sul e da região do Circuito das Águas Paulista.

Desde a criação da Aprocamas já é possível observar a melhor organização administrativa e financeira dos alambiques; a padronização de suas garrafas com rótulos e a redução de custos em especial com a compra de insumos em grupo, além da ativa e constante participação em eventos como feiras e concursos de  qualidade. Com tudo isso, o produto dos associados já ganhou em qualidade e popularidade. A Cachaça
de Monte Alegre do Sul, tornou-se conhecida no País e as cachaças de alambique da região conquistam importantes títulos em Concursos de Avaliação de Qualidade.

CACHAÇA ADEGA DO ITALIANO

Adega do Italiano O bom papo de José Narciso Salzani, de 51 anos, é um dos ingredientes que tornaram a Adega do Italiano, na Pousada da Fazenda, o alambique mais conhecido de Monte Alegre do Sul. O fato de
ser o mais próximo do centro da cidade - consequentemente, fácil de achar também ajuda. Mas a qualidade da cachaça tem papel fundamental na boa fama. No alambique rústico, adega de pedra construída pelo próprio Salzani, há 27 anos, e pitorescos bancos de toras, ideais para um dedo de prosa durante a degustação.


Além de boa cachaça, que já ganhou prêmios no Concurso Paulista de Cachaça Artesanal, há vinho, licores e jurupinga (mistura de vinho e cachaça.A receita do vinho é tradição herdada do avô napolitano. Já a da
pinga foi descoberta com a crise do café. O Circuito das Águas Paulista detém duas das três melhores cachaças do Estado de São Paulo, segundo o Concurso Paulista de Cachaça de Alambique, com mais de 150 cachaças participantes. Segunda colocada no concurso, premiada na categoria cachaça não envelhecida, a cachaça da Adega do Italiano, em Monte Alegre do Sul, se destaca no circuito.

CACHAÇA CHORA MENINA

Produzida no Pé da Serra da Mantiqueira, na cidade de Monte Alegre do Sul, desde 1956 e inicialmente produzida por Primo António Borin, cuja propriedade era movida à sistemas de turbinas para geração de  energia e em seguida passando para a roda d' água. O Processo de fabricação da cachaça era feito manualmente desde o corte e transporte da cana até a destilação artesanal em alambique de cobre e que até os dias de hoje, é feita da mesma maneira nas mãos de Nelson Constantino Borin que mantém a qualidade e a tradição da família Borin na fabricação da cachaça artesanal.

Para quem acha que alambique tem de ter roda d’água, máquinas de cobre e história, o Chora Menina preenche todos os requisitos. Administrado por Rodrigo Borin, o lugar foi fundado por seu avô, em 1956, e ganhou esse nome porque, na época, eram as três filhas que pegavam no pesado para ajudar o patriarca italiano. Em homenagem ao esforço delas, o nome e a holografia de uma camponesa com fardos de cana estampa garrafas de cachaça, licor e vinho. O atual administrador aprendeu a fabricar cachaça aos 10 anos, para ajudar o pai. Produz, hoje, 7 mil litros por ano da bebida que, em 2004, ficou entre as 10 melhores no Concurso Paulista de Cachaça Artesanal. As vendas acontecem na sede da associação no centro de Monte Alegre e no próprio sítio, para os turistas que visitam o alambique e querem conhecer como se faz uma pinga artesanal.


CACHAÇA NENO CAMPANARI

O alambique de Neno Campanari fica numa estrada de terra no bairro da Barra, um pouco antes da entrada principal da cidade. Ele representa a terceira geração da família na produção de cachaça. Tudo começou em 1932 com o avô Luigi Campanari. Ele era italiano e trouxe da Europa o conhecimento do processo de produção de vinho e grapa, a bebida destilada da uva. Na época a moagem da cana era feita através de um moinho d’água e o transporte era feito em lombo de burro.

Hoje muita coisa mudou, com o surgimento de novos materiais e tecnologia, mas a base da produção continua a mesma, totalmente com produtos naturais. A tradição familiar continuou com o pai de Neno, Adolfo Campanari. Neno Campanari é o responsável por todos os processos na produção, desde o plantio da cana, a limpeza, a moagem, a fermentação, a fervura, a destilação, o armazenamento em tonéis e o engarrafamento. Campanari cultiva dois alqueires de cana e diz que as cachaças têm um sabor próprio da região, porque são feitas com variedades locais, como a cana roxinha e a cana branca. Para ele, o grande segredo para uma boa cachaça é a dedicação. “Tem que gostar do que faz. São muitos detalhes, que começam com a limpeza manual da cada cana, porque as impurezas influem na fermentação e no sabor final da bebida”.

A sua produção diária é uma média de 35 litros, totalizando cerca de mil litros por mês. As vendas acontecem na sede da associação no centro de Monte Alegre e no próprio sítio, para os turistas que visitam o alambique e querem conhecer como se faz uma pinga artesanal. Premiada nos últimos concursos nacionais
de cachaça promovidos pela Universidade de São Paulo (o Concurso de Qualidade da Cachaça, dentro do evento Brazilian Meeting on Chemistry of Food and Beverages), a pinga artesanal é uma das mais antigas de Monte Alegre do Sul. Produzida desde 1932 pelo avô de Neno, o italiano Luigi Campanari, a receita acabou sendo repassada para vários descendentes, que montaram outros alambiques na região. As fotos dessa saga familiar estão na simpática lojinha, que expõe barris de carvalho.

CACHAÇA NONO ROUXINOLLI

Nono Rouxinolli iniciou a fabricação de cachaça há mais de 20 anos. Seu filho, Jorge começou seguindo os passos do pai, em no Sítio Santa Tereza com construções de pedra da época da imigração italiana e hoje produz uma saborosa cachaça artesanal.

Há mais de um ano o roteiro do Circuito das Águas Paulista foi oficializado em um consórcio intermunicipal que une oito cidades do interior de São Paulo, em plena Serra da Mantiqueira. Já famosas pelo turismo oferecido, essas oito cidades - Águas de Lindóia, Amparo, Jaguariúna, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Pedreira, Serra Negra e Socorro - ganham ainda mais destaque nessa parceria que rende cada dia mais sucesso.

Os passeios já consagrados, como os de aventura, compras, histórico e de águas, agora dão espaço para os tradicionais alambiques. Da orgânica a tradicional, as premiadas cachaças do Circuito das Águas Paulista despertam a atenção dos visitantes e ganham roteiro próprio. O Circuito das Águas Paulista detém duas das três melhores cachaça do Estado, segundo o Concurso Paulista de Cachaça de Alambique, que tem mais de 150 cachaças participantes. Em Monte Alegre do Sul outras cachaças, como a Cachaça Rouxinolli também ganham cada vez mais expressão no mercado.



CACHAÇA DA TORRE

Produzida com cana orgânica da propriedade e depois moída, fermentada e destilada. Armazenada em tonéis de carvalho de 200 litros, onde permanece por 18 meses até sua comercialização. 2º lugar no 3º Concurso de avaliação da qualidade da cachaça durante o VII Brasilian Meeting on Chemistry of Food and Beverages 2008 na Escola de Engenharia de Lorena (EELUSP), na categoria de cachaça envelhecida

CACHAÇA OBIRICI

Para a maior divulgação da APROCAMAS foi criada a Cachaça Obirici, um “blend” como o whisky, com a mistura das cachaças dos melhores alambiques associados da Aprocamas. Obirici é o nome de uma índia que está desenhada nos azulejos de uma fonte de água mineral da cidade. Segundo a lenda do Sul do Brasil, Obirici e sua amiga Iurá se apaixonaram pelo mesmo homem. O cacique Arakém ficou divido entre o amor das duas mulheres. Pare ver quem se casaria com o chefe, foi feita uma prova de arco e flecha. Obirici perdeu e suas lágrimas se transformaram em águas puras e transparentes.

domingo, 5 de dezembro de 2010

CACHAÇA - CANA TIPO EXPORTAÇÃO

Produtores de cachaça buscam certificados do Ministério da Agricultura e tentam melhorar a qualidade do produto pelo fato da bebida atingir um público cada vez maior e da exportação ser crescente a cada ano. Típica do brasileiro, a cachaça é a bebida destilada mais produzida e consumida no País, apesar dos números serem imprecisos já que muitos alambiques não são registrados, mas estima-se que existam mais de 40 mil produtores no Brasil. A produção anual chega à cerca de 1,2 bilhão de litros, o que representa 90% da produção nacional de bebidas alcoólicas, excluindo a cerveja.Cerca de 99% dos produtores são micro ou pequenos, e detêm cerca de 4 mil marcas de cachaças. Apesar disso, 85% da cachaça produzida é industrializada e apenas 15% vem dos pequenos e micro produtores.

Algumas indústrias apareceram no mercado interno nos últimos anos, mas a preferência do público é pela cachaça de alambique, produzida em pequenas propriedades rurais. “Nos últimos anos, o aumento do consumo dessas cachaças diferenciadas é de 10 a 15% ao ano”, afirma César Rosa, presidente da diretoria executiva do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac).

Popularmente o estado de Minas Gerais é o mais conhecido por produzir boas aguardentes, mas há quem garanta que é questão de fama. “Realmente existem ótimas cachaças em Minas, mas São Paulo também tem, assim como Pernambuco e Bahia”, explica Ana Lúcia Santiago, coordenadora de projetos com derivados da cana-de-açúcar do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP). “Inclusive o Rio Grande do Sul trabalha para fazer da cachaça a mesma coisa que fez com o vinho. São Paulo é um estado que tem uma tecnologia de produção muito boa entre os pequenos produtores”.

Como muitos produtores não têm o registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), os números oficiais não contabilizam a real produção nacional da bebida.

Os motivos que levam os produtores a não se certificarem são inúmeros, mas o principal é por não ter necessidade, já que vendem para conhecidos da região em que produzem. “Mas é muito bom quando a gente vê o nosso produto em uma prateleira de supermercado. É gratificante para gente que trabalha mais de um ano para chegar ao produto final”, afirma João Evangelista Vaz de Lima, produtor da cachaça Pioneira, de Socorro a 130 quilômetros da capital paulista.

O produtor buscou registro no MAPA e também certificou o produto como orgânico e chegou a ser chamado de ‘louco’, no início. “Quando inventei de fazer a cachaça orgânica, todo mundo não acreditou que daria certo. Fui um dos primeiros, por isso que o nome é Pioneira”, explica Vaz Lima sobre a marca que ele registrou.

Com uma plantação de sete hectares de cana, o produtor tem dois empregados fixos e com carteira assinada, como exige a certificação. O Sítio Santo Antonio já era símbolo da aguardente antes mesmo da produção da Pioneira. “Meu irmão começou a fazer a cachaça, aí eu entrei com ele e mais para frente eu comprei a parte dele. Mas não era esse tipo de cachaça não, era uma de qualidade inferior, que a gente vendia mais barato”, explica Vaz de Lima. Até que um dia ele percebeu que o negócio não evoluía e resolveu produzir menos, mas com mais qualidade e, assim, vender a preços mais elevados.

Deu certo. Com a mudança do produto o público alvo também mudou. João Vaz de Lima buscou certificar como orgânico, melhorou o processo de envelhecimento e a distribuição. Também passou a produzir outros derivados como melado (destinado à indústria alimentícia da região) e açúcar mascavo, também certificados como orgânico. Mais para frente o produtor começou a produzir a ‘Canelinha’, marca do produto que nada mais é que a própria cachaça aromatizada com cascas de canela ao final do envelhecimento e açúcar.

A demanda por produtos naturais é cada vez maior pelo consumidor com melhor poder aquisitivo. E é nesse mercado que atua os produtos orgânicos. “Hoje eu tenho uma encomenda de mais de seis mil garrafas de ‘Canelinha’ que vão para os Estados Unidos (EUA). A minha cachaça é vendida a mais de R$ 60 em São Paulo, capital, sendo que aqui na região comercializo a R$ 13 a garrafa”, explica o produtor.

A ideia do produtor é de crescimento da venda no mercado interno e na exportação das bebidas já que existe o planejamento de uma nova marca. “Eu to iniciando uma nova marca para a minha bebida. Terá um novo rótulo, outra garrafa, é uma forma de agregar valor. E a exportação das canelinhas é a primeira remessa, se der certo, quem sabe não começamos a exportar cada vez mais”, se entusiasma Vaz de Lima, que produz 15 mil litros de cachaça por ano.

1ª rotulada como orgânica

Outro produtor que está lucrando com a produção de cachaça no interior de São Paulo é Marcos Macedo, proprietário do Sítio São Bendito, localizado no distrito de Jacuba, município de Aurealva, no interior do estado de São Paulo. O início da produção foi em 1996 e a certificação chegou em 2000. “Fui o primeiro produtor de cachaça a usar o selo de produto certificado orgânico no rótulo”, lembra Macedo.

A certificação foi muito bem vinda e trouxe novos mercados ao produtor que atualmente exporta para a Bélgica, a Alemanha, a França e os EUA. O preço da garrafa de 750 ml é de R$ 30, mas Macedo disse que já viu ser vendida por R$ 150,00 em lojas da capital paulista. “Com a crise os pedidos do exterior diminuíram bastante, mas espero que esse problema passe logo e a gente volte a mandar bastante cachaça para fora do País”, afirma o produtor.

Os três maiores problemas enfrentados pelos produtores decorrem da falta de apoio do governo. “Imagina se nós pudéssemos concorrer com os grandes players [empresas] do mercado externo de vodka, por exemplo. É difícil fazer o europeu trocar a vodka pela cachaça sem grande publicidade. Então estamos fazendo um trabalho de formiguinha ainda”, explica César Rosa, presidente da Ibrac.

Existe um projeto de exportação, segundo ele, que não foi aprovado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e que ajudaria muito a divulgação da bebida no exterior. “Hoje, a única coisa que temos são pessoas que já experimentaram a cachaça e conhecem a qualidade”, diz Rosa.

Impostos altos

Outro grande entrave da bebida no Brasil é o alto imposto cobrado, que pode chegar a custar 80% de uma garrafa. “O governo americano incentivou o rum, outros países que tem uma bebida símbolo também ajudam os produtores e dão mais oportunidades para a produção da bebida, mas o Brasil não”, reclama Rosa. João Vaz de Lima, produtor de Socorro, também reclama e diz que prefere exportar a bebida porque paga muito menos impostos do que se vender no mercado interno.

“A tributação é muito pesada para o micro e pequeno produtor. Ele paga imposto como se fosse uma grande companhia. Já não tem capital de giro para desenvolver sozinho, imagina para pagar tudo isso de registro. Muitas vezes é um produto familiar e paga como se fosse gente grande”, afirma Rosa, já tocando no terceiro problema: dinheiro para girar a produção.

Faltam linhas de crédito para o produtor poder melhorar o processo de produção, ampliar a lavoura, melhorar o rótulo, entre outras coisas. “O que precisa hoje para fechar o ciclo é uma linha de crédito para apoiar o pequeno produtor. Como é uma produção familiar, os produtores não têm condições de fazer grandes investimentos no alambique”, explica Ana Lúcia Santiago, do Sebrae-SP.

Apesar de todos os problemas enfrentados pelos pequenos produtores a exportação da cachaça vem crescendo nos últimos anos. Se em 2004 recebemos US$ 11.087.500 das vendas ao exterior, em 2008 foram US$ 16.418.978, representando um crescimento de 48% ao longo desses quatro anos.

Auxílio ao pequeno produtor

O Sebrae-SP iniciou um programa de auxílio aos produtores visando atuar em duas frentes. Uma seria ajudar na regularização dos produtores que ainda não possuem licença do MAPA e que produzem a bebida sem o mínimo de qualidade, desrespeitando as normas sanitárias. “O Sebrae busca dar suporte aos agricultores nas áreas de saúde, higiene, qualidade, tecnologia, embalagem, informação, capacitação e mercado. Hoje, a maioria dos alambiques no Brasil é muito precária ainda”, afirma Santiago.

A outra frente de trabalho é referente a formação de marca, exportação, marketing do produto. Uma das ações é reunir produtores de regiões próximas e formar uma única marca e assim ter grande quantidade podendo exportar ou ter demanda para grandes fornecedores. “O Sebrae trabalha atualmente com 372 propriedades e, destas, 20% é legalizada. Até o final de 2009, imaginamos que esse índice suba para 60%”, explica Santiago.

Caso o produtor tenha interesse em receber auxílio do Sebrae-SP entre em contato com o escritório da unidade mais próxima ou entre no sítio de Internet do órgão, pelo endereço www.sebraesp.com.br.

Revista Rural 133 - março 2009