domingo, 11 de setembro de 2011

O Tesouro do Caribe

Primo-irmão de nossa cachaça, o rum é um dos destilados mais apreciados em coquetéis
por Silvia Mascella Rosa


Histórias de piratas, tesouros e ilhas paradisíacas saem da ficção quando se conta a história do rum. A cana-de-açúcar, sua matéria prima, chegou ao Caribe pelas mãos de Cristovão Colombo, no final do século XV, e espalhou-se por todas as ilhas. Os livros não confirmam qual ilha foi a responsável pela primeira destilação do melaço da cana, embora Barbados seja a mais citada. Mas o fato é que, em pouco mais de um século, o rum já era a bebida que motivava os militares (até a década de 70 do século passado, a bebida fazia parte da "ração" diária dos marinheiros ingleses), o combustível de piratas europeus e o divertimento dos nativos e dos escravos que circulavam pelas ilhas. Até mesmo o nome da bebida tem as coordenadas díspares de um mapa de tesouro.

Conhecido como rum, ron e rhum, uma das possíveis origens do nome seria a palavra latina saccharum, que significa açúcar. Outra origem, relacionada aos piratas, está ligada ao termo inglês antigo rumbullion (em Português, tumulto), ou seja, as arruaças dos bebedores após festejar o sucesso de seus saques.

O rum foi o álcool mais presente nas expedições marítimas e, talvez por isso, passou a ser uma das bebidas mais populares ao redor do mundo. Piratas e prostitutas, senhores de terras e escravos, cowboys no velho oeste e atores, políticos e escritores, todos apreciavam rum. Em 1954, o escritor norte-americano Ernest Hemingway escreveu as seguintes frases:“My Mojito in La Bodeguita, My Daiquiri in El Floridita”. As frases estão emolduradas e penduradas na parede do bar mais famoso de Havana, La Boguedita del Medio, no bairro antigo da capital cubana, somente a alguns quarteirões de distância do restaurante La Floridita, onde o escritor sentava-se todos os dias para uns quatro ou cinco coquetéis. A fácil utilização do rum na coquetelaria internacional é um dos fatores que elevou a sua popularidade no final do século XX. É o tipo de destilado que combina muito bem com frutas e refrigerantes, como prova a popularidade da “Pina Colada” (saborosa mistura de rum, suco de abacaxi e creme de côco), da “Cuba Libre” e do “Daiquiri”.

Os apreciadores brasileiros (o nordeste é a região com maior consumo de rum no país) criaram uma versão caribenha de nossa caipirinha, a caipiríssima.

A diferença do rum para nossa cachaça está no processo de produção: a maior parte dos runs é destilado do melaço fermentado da cana-de-açúcar, enquanto a cachaça é preparada do caldo da cana fermentado, resultando em um produto com sabores menos concentrados do que o rum. Após a preparação do melaço ele é armazenado em tanques ou cisternas e depois diluído com água e nutrientes para a fermentação. O líquido é então transferido para o local de destilação, que tanto pode ser um alambique de destilação contínua quanto um alambique do tipo ‘pot’, de destilação por partes (utilizado nos runs premium). O primeiro produto da destilação é conhecido como “rum comum”. Após isso, ele vai ser transferido para os barris de carvalho, nos quais amadurece. Esse processo requer no mínimo dois anos e pode chegar até dez anos para bebidas especiais. Na etapa final, entra em cena o blender, responsável por fazer as combinações entre os diversos tipos de runs – os comuns e os de destilação pot –, para obter produtos diferenciados.

Os tipos de rum Ao longo dos anos, o rum tomou sotaques e sutilezas que o tornam peculiar em cada local de produção. Os mais famosos, no entanto, encontram-se em Cuba, na Jamaica, na República Dominicana, em Porto Rico e em Barbados. Mas, incrivelmente, existem runs produzidos na Austrália (onde foi a primeira bebida oficial), em Java (na Indonésia), na Índia e na Alemanha.

Leves ou encorpados, os runs têm, em geral, de 35% a 45% de gradação alcoólica. Os leves são produtos amadurecidos por pouco tempo e classificados como dourado (oro, carta ouro ou golden) e transparente (blanco, carta blanca, prata, silver ou white). Seus aromas são associados às especiarias e às frutas secas: uvas-passas, ameixas e, algumas vezes, baunilha. Além disso, podem ser distinguidos pelo país que os produz:

● CUBA – runs leves e suaves;
● JAMAICA – runs fortes, encorpados, envelhecidos em carvalho e duplamente destilados;
● BARBADOS – runs mais ou menos leves, com sabor acentuado de carvalho;
● MARTINICA – runs encorpados e pungentes feitos com suco de cana no lugar do melaço;
● PORTO RICO – runs leves e de muita qualidade.

O rum premium, em geral cor de caramelo e envelhecido, deve ser servido em temperatura ambiente, puro, como digestivo ou para acompanhar um bom charuto. O copo pode ser o de conhaque ou mesmo uma boa taça para cachaça ou vinho do Porto. O rum branco, quando tomado puro, deve ser servido frio.

O mojito 
Um dos coquetéis preferidos do escritor Ernest Hemingway, o Mojito, tem fiéis apreciadores ao redor do globo, por ser uma bebida refrescante e leve. Segundo o próprio Hemingway, o coquetel é uma invenção do almirante inglês Francis Drake, primeiro homem branco a aportar nas Ilhas do Pacífico Sul. Ele teria criado a bebida misturando folhas de hortelã com doses generosas de rum. O objetivo era proteger seus marinheiros das doenças respiratórias e estomacais. A receita mais popular, no entanto, é a criada pelo bar cubano "La Bodeguita del Medio". Confira abaixo:

6 Ou 7 folhas de hortelã (mais um galho para decoração);
2 Colheres de chá de açúcar;
1/2 Dose de suco de limão;
1 Dose de rum prata leve;
4 ou 5 pedras de gelo picadas;
Club soda ou água com gás.

Misture o açúcar e o limão em um copo alto. Coloque as folhas de hortelã e as amasse levemente. Coloque o gelo picado e o rum. Complete com club soda. Mexa levemente e sirva com canudo, mexedor ou ramo de hortelã.

Loja da APROCAMAS em Monte Alegre do Sul

Loja da APROCAMAS - R. Cel. Luiz Leite, 04, Centro - Monte Alegre do Sul
No Estado de São Paulo, o principal polo produtor de cachaça de alambique é o chamado Circuito Das Águas. Na região se produz cachaça desde 1905, com um volume de 900 mil litros por ano. Parte sai de Monte Alegre do Sul. O município tem cerca de 7 mil habitantes e quase 50 alambiques, pequenos e artesanais. Alguns são filiados à Associação dos Produtores de Cachaça de Monte Alegre do Sul e Região - APROCAMAS. A entidade existe desde 2003 para dar suporte às cachaçarias.
A região detém duas das três melhores cachaças do Estado, segundo o Concurso Paulista de Cachaça de Alambique deste ano, que teve mais de 150 participantes. Segunda colocada no concurso, premiada na categoria cachaça não envelhecida, a cachaça da Adega do Italiano, em Monte Alegre do Sul, se destaca no Circuito. Em Monte Alegre do Sul outras cachaças, como a Cachaça Chora Menina, Cachaça Campanari e a Cachaça Rouxinol também ganham cada vez mais expressão no mercado.

Para uma divulgação maior da APROCAMAS, "Associação dos Produtores de Cachaça de Monte Alegre do Sul e Região" foi criada a Cachaça Obirici, um “blend” como o whisky, com a mistura das cachaças dos melhores alambiques associados da Aprocamas.

Quem visita Monte Alegre do Sul pode conhecer os alambiques, experimentar a bebida e comprar direto do fabricante, ouvindo as dicas e histórias de cada um. Outra opção é visitar a loja da Aprocamas no centro de Monte Alegre do Sul, lá estão produtos dos principais fabricantes locais. O endereço é rua Cel. Luiz Leite, 04, e o telefone é (19) 3899 2744. O horário de funcionamento é das 10 às 12h e das 13 às 18h, sextas, sábados, domingos e feriados.

Quanto mais marcas melhor?

15 de junho de 2011 | Categorias: Blog, Marketing e Cachaça | Por: Renato Figueiredo
Tente se lembrar de um lugar que você foi, e que era famoso por servir Cachaça. Quantas marcas haviam lá?

Muita gente deve ter respondido, “não sei, mas muitas!” Com certeza, mais de 50. E, aliás, quanto mais marcas, melhor, não é? No mundo da Cachaça, parece ainda haver uma idéia de que Cachaça deve ser, necessariamente, multiplicidade. Quanto mais marcas diferentes, sabores diferentes, embalagens especiais, etc. e tal, melhor. Será?

“Hã hã”: não necessariamente. A variedade pela variedade pode nem sempre ser interessante para o consumidor ou para o restauranteur ou dono do bar. Para o consumidor, o enorme leque implica uma dúvida iminente durante e após a escolha: “essa que eu escolhi é boa, mas será que não havia outra melhor?” Ou: “poxa, havia tantas para escolher e eu fui escolher justo esta que não gostei?”. Se o mercado da Cachaça já fosse tão desenvolvido quanto o do vinho, talvez pudéssemos contar com sommeliers em vários restaurantes ou pontos de venda, e que nos dessem orientações na hora da compra. No entanto, a realidade ainda é outra.

Para quem administra um negócio, tanto do lado da produção quanto da venda, o excesso de opções também é problemático: administrar a variedade é muito mais trabalhoso e mais custoso. Cada “tipo” do produto (também conhecido como “SKU”) tem uma peculiaridade, um tamanho de embalagem diferente, um rótulo diferente, uma distribuição diferente. Vale a pena pensar na relação custo-benefício antes de expandir sua linha.

Se observarmos os grandes conglomerados de empresas hoje, veremos que é justamente isso que eles têm feito: Unilever, Nestle, Procter&Gamble… Todas as grandes players do mercado têm comprado e não param de comprar mais marcas. Mas cada vez mais elas reduzem o número delas no seu portfólio (excluindo, juntando, mudando nomes…). E por que? 2 razões: custos e lembrança de marca.

Sim, marca. Imagine você fazer a propaganda de 300 tipos de Cachaça diferentes. Investir em campanhas para cada uma delas – e fazer o consumidor se lembrar delas. Se você já tentou trabalhar com uma, sabe o quanto isto pode ser trabalhoso. O exemplo das grandes empresas de hoje nos mostra: é mais proveitoso investir em poucas marcas, com melhor qualidade. Para todos os elos da cadeia de consumo: produtores, distribuidores, varejistas, consumidores finais…

Assim, seja você um produtor, distribuidor ou até consumidor de Cachaça: antes de pensar em quantidade, pense em investir seus esforços em menos, mas mais valiosas marcas e produtos. Antes de pensar logo em 4 produtos diferentes, por que não apenas 2? Ou um só? Quantas marcas “únicas” não fazem enorme sucesso por aí? Se seu licor é melhor que a cachaça branca, invista no licor! Se a branca recebe mais elogios que a envelhecida, invista na branca. Antes de pensar em embalagens super especiais para 3 ocasiões diferentes, que tal melhorar a embalagem padrão?

Isto, é claro, não deve ser aplicado às cegas, nem por qualquer um. Alambiques muito pequenininhos, com produção bem restrita, é lógico, podem se dar ao luxo de variar um pouquinho e fazer algumas coisas diferentes (isso se eles não visam o grande mercado). Mas, mesmo assim, sem exageros e com “constância”. (Constância, aliás, é uma outra palavra interessante para ser lembrada – não vale muito investir para caramba em séries especiais que não se repetem, por exemplo. Seja inteligente e tenha um pensamento “otimizador” para aproveitar seus esforços de marketing!).

Assim, marcas que visam se fazer conhecidas nos melhores bares, restaurantes e pontos de venda devem pensar nisto. A variedade é muito bacana e rica. E há boas cachaçarias trabalhando com elas. Mas, para o mercado da Cachaça crescer, a relação custo-benefício na hora de expandir sua linha de produtos ou oferecer ao consumidor uma carta de Cachaça muito extensa deve ser pensada com menos “tradição” e mais estratégia. Vale parar para pensar!

Renato Figueiredo

Renato Figueiredo traz todas as quartas-feiras algum pensamento ou informação a respeito de como usar o MARKETING para VALORIZAR A CACHAÇA brasileira. Fale com ele: renato@mapadacachaca.com.br e conheça seu livro, o “Estava no Seu Nariz, Mas Você Não Viu” .