Dificuldade de organização atrapalha cachaça artesanal do país, diz CRBC. Para presidente da entidade, produtores precisam se unir e ter mais representatividade
por Raphael Salomão
Para o Centro Brasileiro de Referência da Cachaça, os pequenos produtores precisam ganhar representatividade e promover mais a cachaça artesanal.
Os produtores brasileiros de cachaça precisam fortalecer sua representatividade, especialmente os micro e pequenos. É o que diz o presidente do Centro Brasileiro de Referência da Cachaça (CRBC), José Lúcio Mendes, que também é diretor da Expocachaça, feira realizada até o próximo domingo (8/9), em São Paulo.
De acordo com Mendes, há cerca de 40 mil produtores de cachaça no Brasil, 98% são micro e pequenos. “Há mais de 40 mil produtores espalhados pelo Brasil e uma grande quantidade de entidades que precisam se relacionar melhor.”
As deficiências na organização e na representatividade setorial evidenciam problemas como informalidade no setor
As deficiências na organização e na representatividade setorial evidenciam problemas como informalidade no setor, explica Mendes. Dificultam também a prática comercial e a discussão de questões importantes como a tributação, segundo ele, de 33%.
Outro entrave é uma “falta de cultura” para a promoção, diz José Lúcio Mendes. “O produtor deveria reservar pelo menos um terço dos seus recursos para marketing, mas não faz isso. Quando se vê, geralmente tem uma grande empresa por trás”.
O setor de cachaça movimenta por ano cerca de R$ 7 bilhões nas estimativas do CBRC. O maior consumo no Brasil ainda é em bares e restaurantes, explica José Lúcio Mendes. Os estabelecimentos absorvem 70% da produção. Os outros 30% são colocados em outros pontos de venda, como supermercados e lojas de bebidas.
“A grande dificuldade é fazer o produto se manter na prateleira. O pequeno não faz marketing. Enquanto a indústria de cerveja investe R$ 600 milhões em marketing, a cachaça investe R$ 25 milhões e 90% é cachaça industrial”, diz Mendes.
Pouco para um setor que, segundo o presidente do CBRC, responde por 87% do mercado de destilados no Brasil, mas ainda é alvo de "preconceito". "Sempre foi considerado um produto menor. Mudar isso demora. O grande gargalo é mídia”.
Enfraquecidos, os pequenos produtores tendem a ser adquiridos pelas grandes indústrias, avalia José Lúcio Mendes, e o setor deve ficar cada vez mais consolidado. Segundo ele, as maiores distribuidoras de bebidas têm a cachaça nos seus portfólios e devem continuar ditando as regras do mercado. “Falta consciência maior da cachaça como um negócio. Entre os organizados, já existe essa consciência maior”.
Embora sejam aquém do considerado ideal, existem exemplos dessa mentalidade da qual fala o presidente do CRBC. Em Alagoas, por exemplo, desde 2007 existe a Associação dos Produtores de Cachaça do estado (Aprocal). A entidade reúne nove alambiques locais, que produzem cerca de 400 mil litros de cachaça por ano.
Cada um tem o seu produto, mas se eles forem divulgados juntos, podem se tornar referências”.
Presidente da Aprocal desde julho deste ano, Henrique Tenório conta que a entidade recorreu ao trabalho de consultores e realizou iniciativas de promoção da cachaça. “O setor ficou mais unido e o produto mais valorizado. Cada um tem o seu produto, mas se eles forem divulgados juntos, podem se tornar referências”.
Outra iniciativa é o Clube do Alambique, em São Paulo. Trabalhando com pequenos produtores, faz seleção de cachaças por pesquisas ou indicações de especialistas e oferece apoio para promoção da cultura da cachaça e comercialização da bebida. Um dos critérios é a viabilidade comercial em praças como São Paulo e Brasília.
Uma das donas, Ariana Souza, explica que a empresa tem atualmente cinco alambiques em seu portfólio. A meta, segundo ela, é ter pelo menos dois ou três de cada estado. “O setor precisa de mais organização. Há muitos produtores com bastante dificuldade. A parte comercial e de marketing é uma necessidade”.