quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mercado de Ouro


cachaça.com

O brasileiro definitivamente descobriu o sabor e o valor da cachaça. Agora, bebida de pobre é coisa do passado.

Em garrafas de porcelana ou de fino chocolate, em caixas de madeira de lei, podem ser facilmente encontras em shoppings e supermercados sofisticados. Da senzala para a casa grande, a cachaça ganha seu espaço na elite. Turistas e hóspedes do Hotel Breezes, na Costa do Sauípe, uma paradisíaca praia da Bahia, podem comprar na loja de souvenirs ou no bar do hotel as cachaças com marcas próprias, a Silver e a Gold, produzidas exclusivamente para seus clientes.

Já o Othon Palace Hotel incluiu a bebida no serviço de bar em toda a sua rede. A empresa elaborou uma carta de cachaças, ilustrada com rótulos de bebidas da década de 20, e batizou um drink com o nome de Imperatriz Leopoldinense, que estará disponível nos estabelecimentos de todos os países onde a tradicional marca está presente.

Na capital paulista, a maior cidade brasileira, a cachaça conquistou alguns dos espaços mais nobres, como a Casa Godinho, a Casa Santa Luzia e o Empório Santa Maria. E segundo os responsáveis pela idéia, o investimento valeu a pena: as vendas vêm crescendo a taxas que variam de 50% a 100% em relação aos mesmos períodos do ano passado. Por esta razão, nestes estabelecimentos a aguardente conquistou na prateleira um lugar ao lado das bebidas nobres (e caras), como vinhos e uísques finos.

Já os supermercados Mambo, que recebem público das classes A e B, destinam hoje grande parte da sua seção de bebidas para as cachaças, principalmente as mineiras. De todas as redes estabelecidas em São Paulo, é ela que oferece a maior variedade de cachaças em suas prateleiras. Em promoção, você pode encontrar a Taiô por R$ 41,87 e Santa Rosa Especial R$ 51,55, além de mais de 50 marcas de qualidade por preços absolutamente honestos.

No Shopping Iguatemi, considerado reduto da elite paulistana, a rede de lojas Imaginarium, conhecida pelas suas vitrines luxuosas e pelo design de suas peças, inaugurou este mês uma vitrine batizada de “brasilidade”. Nela, estão expostos cálices especiais para degustação de cachaça além de outros acessórios e variações do mesmo tema.

Perto do Iguatemi, na mesma Avenida Faria Lima, quase esquina com a Rebouças, o apreciador da genuína cachaça brasileira encontra a filial paulistana da loja Tonel & Pinga, que tem nas suas prateleiras nada menos que 600 marcas, com preços variando de R$ 6,00 a R$ 900,00 - isso mesmo, R$ 900,00 por uma garrafa de 700ml da Sarau Dona Beja, que o fabricante afirma ser envelhecida por 30 anos.

Na pizzaria Ritto, localizada em outro bairro nobre de São Paulo, a cachaça rivaliza com o chopp alemão Warsteiner na preferência dos comensais. São mais de 60 marcas, vendida a até R$ 30,00 por dose.

A Tonton Jazz & Music Bar, um dos templos do jazz, do blues e do rock, abre suas portas também para a cultura brasileira, lançando o exclusivo “clube da cachaça”, que funciona no mesmo modelo consagrado pelos vários clubes do whisky: o sócio compra uma garrafa, que fica na prateleira, devidamente identificada, exclusivamente para o seu consumo.
Mas o avanço da “marvada” não fica só nas gôndolas e nas mesas freqüentadas pela elite paulistana. A Kopenhagem, uma das mais sofisticadas fábricas de chocolate do país, lançou recentemente um bombom chamado “cachaça”. É uma espécie de revisão nacionalista do tradicional bombom de licor, modelado na forma de uma garrafinha de chocolate, só que com cachaça no seu interior.

A mesma realidade tomou conta dos endereços finos de todas as principais cidades brasileiras, onde estabelecimentos sofisticados têm hoje em seu mix cachaças nobres, que se tornaram um dos itens mais procurados pelos consumidores. A água-que-passarinho-não-bebe deixou de ser bebida de boteco e está cada vez mais sendo consumida pela elite econômica e cultural do país.

Enquanto isso, navegando nas ondas vigorosas da valorização da nossa bebida mais típica, a marca que virou símbolo do renascimento da cachaça colhe enfim os resultados da verdadeira saga de Anísio Santiago, fundador da Havana, que projetou nacionalmente o município mineiro de Salinas. Hoje, uma garrafa com o rótulo atual, com o nome do velho pioneiro, custa em torno de R$ 300,00. Já um exemplar com a marca Havana original, não se encontra por menos de R$ 500,00.