O turismo Rural é mais uma opção para proprietários de terras que queiram investir nesse ramo do agronegócio. Para ingressar na área, é importante estar atento a algumas particularidades exigidas para o sucesso da atividade. Uma ajuda extra é a propriedade estar inserida em algum circuito já voltado para o turismo ou com vocação natural, como a região serrana e o circuito das águas, e a existência de atrativos naturais, como cachoeiras, trilhas, uma bela paisagem natural. Uma boa rede hoteleira também costuma ajudar e oferecer suporte à divulgação.
Além desses fatores, ferramentas importantes para os interessados são as capacitações oferecidas nessa área, tanto pela CATI, como pelo Senar. “Todos os que ingressaram e estão tendo sucesso, passaram por capacitação para a gestão do agronegócio: receber visitantes; montar uma agroindústria artesanal, como queijarias, estar apto a oferecer pães, bolos, doces, geléias feitas na roça, com o sabor da culinária caipira, estão entre os cursos oferecidos.“É importante o produtor não perder o foco. Quem procura turismo rural quer vivenciar a vida no campo, experimentar seus sabores, ter uma atividade genuína como uma cavalgada, um leite ao pé da vaca, coisas do dia-a-dia de quem vive no campo. Conversar, contar “causos”, ter disposição para servir, estar atento à curiosidade daqueles que vivem realidades diferentes são dicas de sucesso, ensina o eng. agr. Ricardo Moncorvo, da Casa da Agricultura de Amparo, especialista nessa área.
Queijo e vinho: uma parceria que atrai turistas
Em Serra Negra o turismo rural está em ascensão e alguns proprietários começam a se associar para oferecer mais oportunidades a quem visita a região rural. É o caso da rota do queijo e vinho, onde os proprietários do Sítio Chapadão oferecem os mais variados tipos de queijo, desde os mais comuns, como frescal e minas padrão, aos finos ou diferenciados como o boursin, o trabalhoso parmesão que tem que ser virado e revirado até chegar ao ponto, ou com sabores inusitados como saint paulin com sabor whisky ou vinho. Logo adiante, no Sítio Bom Retiro, é hora de comprar vinhos e cachaças especiais. Em ambos os casos, há muita história para ouvir das famílias, Dini dos queijos, e Carra dos vinhos. Geralmente tudo começa de um dom que, explorado, torna-se uma alternativa de renda, reúne familiares em torno de uma causa comum e impulsiona o turismo rural.
Suely Aparecida Campos Dini conta como o sítio foi se tornando a principal fonte de renda da família. “As terras pertenciam ao meu sogro que plantou o primeiro cafezal há uns 50 anos, depois meu marido começou a atividade leiteira com quatro vacas e ordenha manual. Quando aposentei, resolvi fazer cursos de derivados do leite e a melhorar os queijos que já fazia, aumentou a clientela e trocamos a cidade pelo Sítio”, relata Suely. “Nos últimos 10 anos abrimos as porteiras e os grupos foram aumentando e nós aumentamos a oferta. Agora temos café da manhã e da tarde, recebemos grupos, estamos atentos à decoração e não deixamos de lado o investimento em novidades, estamos sempre aprendendo” contam a nora e o filho de Suely, Alexandra e José Antonio.
O neto, de 9 anos, Pedro Henrique já dá palpites na queijaria e “é bom de contas”, fala a mãe, Alexandra, que faz planos para a futura geração. As frentes são várias, o café não foi descuidado, tem certificação e ganhou recentemente o 1.º lugar no Concurso de Qualidade do Café de Serra Negra e o 3.º na Região. Com o prêmio a saca subiu de R$ 190,00 para R$ 400,00. Mais dinheiro para continuar investindo. No telhado da queijaria, como um cuidado na decoração, reina uma bruxinha apontando a direção do vento, bons ventos que estão trazendo renda e emprego. O contato e as reservas podem ser feitas pelo e.mail ascadi@bol.com.br telefones (19) 3892-1091 ou (19) 9171-1709.
A família Carra está na região há cinco gerações e quem procura vinho encontra da melhor qualidade, produzido com uvas vindas do rio Grande do Sul. “Cada geração tem seu lugar na adega rústica, construída em alvéolos de barro, uma curiosidade que se mistura a outros pertences da família, como máquinas de costura antigas, ferros de passar, fotos e brasões. No local é possível encontrar o vinho Porto Ânfora, uma tradição grega passada aos portugueses. O Porto Ânfora é feito com uvas desidratadas e fica enterrado em ânforas de barro por 12 meses, dando ao vinho um sabor especial.
A cachaça artesanal também tem muita procura
O Sítio Bom Retiro oferece também boas cachaças, premiadas como a feita na ocasião da inauguração do Memorial JK em Brasília. “Ganhamos em segundo lugar, entre as melhores cachaças do Brasil, as garrafas eram numeradas e, em leilão, chegaram a valer R$ 35 mil”, conta Clóvis Carra que mostra outras curiosidades como a cachaça azul, uma receita do tempo do Império, feita em homenagem a D. Pedro II e aos nobres de “sangue-azul”. A flor de laranjeira misturada à cachaça é que proporciona a coloração. A bebida deve ser servida bem gelada que é quando perde a acidez e intensifica o sabor. Ou, ainda, a Kachinello, uma receita indígena e que era oferecida antes das provas de resistência. Inicialmente feita com álcool de mandioca, no Sítio Bom Retiro ela é feita com álcool de cana, acrescido de caramelo, açúcar mascavo, licor de cacau e pó de guaraná. Segundo Clóvis Carra, “faz milagres”. O contato é sitiobomretiro@bol.com.br, telefone (19) 3892-3574.
Cavalgadas, tirolesa, trilhas: atividades que aumentam o apetite na roça
Na verdade quem procura turismo rural está sempre atrás de boas comidas, feitas em fogão a lenha. “É inevitável”, conta Claudinei Almeida, o Nei, “as cavalgadas promovidas pelo Rancho São Nicolau acabam ou começam sempre com um belo almoço servido aos domingos”. Nei é um domador de cavalos, quem se lembra do filme Encantador de Cavalos, estrelado por Robert Redford, sabe o que é a doma índia, um carinho que submete o animal e em menos de um mês um potro bravo atende todos os comandos. Nei demonstra e ensina esse e outros tipos de doma, um dos atrativos oferecidos no rancho.
“Sempre recebi visitantes à procura de maior contato com cavalos e com a vida no campo. Aí fui aumentando a oferta com compra e venda de animais, equitação, construi o restaurante com verba do Pronaf. Diversifiquei, mas não quero perder a rusticidade”, conta Nei que oferece também ecoterapia, uma terapia com cavalos destinada ao tratamento de pessoas com necessidades especiais. A parceria com hotéis e pousadas permite cavalgadas de longa distância com paradas agendadas, tanto para grupos experientes como para iniciantes. Nei tem investido em divulgação e parceria com outros que estão fazendo do turismo rural a sua principal atividade econômica. O Rancho São Nicolau fica em Águas de Lindóia e está cadastrado no site oficial da cidade. Os contatos também podem ser feitos pelo celular (19) 9798-4803.
Em Águas de Lindóia, Joel Raimundo de Souza, procurava apenas oferecer uma vida mais saudável à família e acabou encontrando no Sítio Monte Alegre todos os ingredientes de sucesso para o turismo rural. “O maior ingrediente sempre foi a disposição da família em colaborar”, conta Joel que tem dado depoimentos em diversos encontros sobre turismo rural. Além de Joel, seus pais, irmãos, mulher e filhos vivem da atividade e ainda oferecem emprego a 15 funcionários. No Sítio, várias opções foram surgindo como tirolesa, passeio a cavalo, trilhas, a Venda do Zé, com produtos típicos, e o restaurante que ocupa espaço cada vez maior e oferece variedade de produtos. Contatos sitiomontealegretur@hotmail.com ou no site oficial do município de Águas de Lindóia.
Receitas de sucesso não acontecem por acaso, são fruto de treinamento e capacitação para o planejamento e gerenciamento de uma propriedade rural. Estar por dentro da legislação e também das verbas públicas destinadas ao turismo rural é importantíssimo, referendam todos os entrevistados. Em breve a CATI estará lançando uma publicação sobre o tema, com teorias, formas de obtenção de crédito e relatos sobre a atividade. O autor, o eng. agr.Ricardo Moncorvo Tonet, tem visitado com freqüência essas e outras propriedades e está apto a colaborar com os interessados em turismo rural. O técnico atende na Casa da Agricultura de Amparo, pertencente à CATI Regional Bragança Paulista, e pode ser acionado pelo e.mail ca.amparo@cati.sp.gov.br ou pelo telefone (19) 3807-3690