sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Uma ressaca "mardita" Cachaça

PAPO DE BOTEQUIM 30/08/2013 Felipe Araújofelipearaujo@opovo.com.br
Nossa mais tradicional bebida registra queda de vendas de até 40% nos últimos anos e procura se reinventar investindo em novos públicos e novos produtos.

Em dois anos, uma queda de 10% nas vendas. Entre 2011 e 2013, retração equivalente a mais de 16 milhões de garrafas – saindo de 173 milhões de litros da “marvada” num ano para 157 milhões no outro. Esse vem sendo o desempenho de mercado do mais famoso destilado brasileiro segundo pesquisa da consultoria britânica Mintel, divulgada este mês pela revista Dinheiro. Entre as marcas consideradas mais populares, o recuo foi ainda maior, de cerca de 40%.

Segundo a revista, os motivos para o tombo foram dois. O primeiro, o aumento de renda do brasileiro, que permitiu a compra de bebidas mais caras. E o segundo, uma questão de status: o gosto dos aficionados por destilados está mudando, sobretudo entre os jovens. “O consumidor mais jovem está trocando a caipirinha pelo uísque com energético. É uma questão de aspiração social, os mais novos não querem ser vistos bebendo cachaça”, declarou à revista o diretor de pesquisa da Mintel no Brasil, David Turner.

A exportação poderia ser, literalmente, uma porta de saída para a crise. Quanto mais que, recentemente, a cachaça foi reconhecida pelos Estados Unidos como produto legitimamente brasileiro – até então a bebida era enquadrada na categoria de “rum”. E a expectativa é que essa mudança desse mais visibilidade ao produto no mercado internacional. Os números, porém, ainda estão longe de ser animadores: apenas 1% da produção anual de cachaça é exportada.

Esse é o pano de fundo das novas estratégias de marketing das empresas do setor, que estão tentando reposicionar a cachaça como uma opção sofisticada. Nessa corrida, os esforços vão de convites a astros internacionais - como John Travolta, contratado pela Ypioca - para o posto de garoto propaganda, até a criação de linhas “premium” dentro do portfólio das empresas - a marca Velho Barreiro, por exemplo, chegou a lançar uma edição limitada de uma garrafa incrustrada de diamantes (um mimo que não sai por menos de R$ 200 mil).

“Não acredito que o consumidor substituiu o produto, mas que ele está consumindo outros também”, afirma, em entrevista à revista Dinheiro, Eduardo Bendzius, diretor de marketing da Ypióca. “O preço médio da cachaça cresceu, o que mostra que há consumo de produtos de maior valor e até redução da informalidade”.